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Pesquisadores encontram materiais em raro estado de conservação em Sambaqui de Joinville
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SECOM PMJ -
Desde o início do mês de fevereiro, a margem do rio Cubatão, onde fica o Sambaqui Cubatão I, está diferente. A paisagem que mostra uma variedade de cores da terra que compõem esse monte ganhou também a presença de arqueólogos, historiadores e outros profissionais da área. Há indícios de materiais extremamente conservados e, por se tratar de um sambaqui singular no país, o trabalho de pesquisa é considerado imprescindível pelos estudiosos.
"Encontramos matérias de fibras encharcadas e estacas de madeira tão preservadas que, até agora, em nenhum outro lugar do Brasil, ou mesmo do mundo, esses tipos de materiais haviam sido vistos", revela Dione Bandeira, arqueóloga do Museu de Sambaqui e uma das coordenadoras do projeto.
Passo a passo da pesquisa
Nas primeiras semanas de trabalho, foram delimitadas as áreas a serem estudadas e agora a equipe realiza a retificação do perfil do Sambaqui. Na prática, é como se fosse feita uma limpeza para que a estrutura fique com as camadas expostas e possa ser estudada.
Além das 190 estacas que foram mapeadas até o momento, outro diferencial desse sítio arqueológico se dá pelo fato de ter uma parte em linha reta.
"Em geral os sítios têm elevações e conchas. No Cubatão I, a gente encontra uma parte rasa em que você vê também material arqueológico. Por isso, a gente resolveu retificar tudo o que a se consegue ver de partes construídas para registro tanto fotográfico, quanto por desenho", conta Dione.
A pesquisadora também informa sobre outro achado. "Logo que começamos a atuar nessa parte elevada, encontramos material humano e um sepultamento estruturado. Estamos tentando evidenciar o sepultamento para ter informações sobre a posição, entre outros detalhes, mas a ideia é retirar para continuar com o trabalho".
Todo o material encontrado é levado para o Museu de Sambaqui, devidamente catalogado e armazenado. Um dos objetivos desse projeto é formar uma coleção significativa desse sítio para pesquisas atuais e futuras. Muitas das coletas passarão por análises genéticas, estudos de plantas minúsculas, fauna e solo, por exemplo. No fim, todo material é reunido e interpretado.
Estão programadas a abertura de trincheiras mais para o interior do sambaqui, com o objetivo de acessar as camadas inferiores da terra. O trabalho em campo deve durar até abril, entretanto os estudos continuam por um longo período.
"Esse projeto conta com a parceria da USP, UFSC, UFPel, UFF, Univille, além da Universidade de Barcelona, FioCruz e Museu Nacional do Rio de Janeiro. Nós vamos compartilhar as informações", ressalta a coordenadora do Museu de Sambaqui, Adriana Pereira dos Santos.
O registro de todo o processo é realizado pela equipe do setor educativo do museu. De acordo com o historiador Gerson Machado, o trabalho de Educação Patrimonial é um requisito do Iphan.
"Nosso foco é ter um registro mais subjetivo de todo o processo, entrevistando os pesquisadores e profissionais que atuam no local, coletando impressões, perspectivas e expectativas. Fizemos isso antes da ida a campo, faremos durante as escavações e também depois do término dos trabalhos", afirma.
Sobre o projeto
Os pesquisadores atuam no projeto "Resgate parcial do Sambaqui Cubatão I, Joinville, SC: salvaguarda, pesquisa, comunicação museológica e divulgação científica desenvolvido pelo Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville - MASJ".
A iniciativa é financiada pelo Ministério Público, a partir de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a empresa FRIGG S.A., firmado entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Associação dos Amigos do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (Aamasj). O projeto conta com o apoio da Prefeitura de Joinville, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), que cedeu profissionais para a pesquisa e da Secretaria de Infraestrutura Urbana.
O Sambaqui Cubatão I tem cerca de 8 metros de altura e uma extensão de aproximadamente 5.600m². O primeiro registro de estudo do local remete a década de 1960 com a exploração do sambaqui pelo historiador e professor da UFSC, Walter Piazza. Mais recentemente ele foi estudado em 1999 e entre 2007 e 2010 por equipes do Museu de Sambaqui.
Atualmente, é possível visitar a parte externa do Museu de Sambaqui de Joinville com a exposição Montes de Conchas, Montes de Histórias. O local fica aberto de terça-feira a domingo, das 10h às 16h. A entrada é gratuita.
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